Julho 27, 2024

UNEBRASIL

Membros Afiliados

O agoniante Flagelo e a Crucificação

20 min read
Compartilhe a Verdade

 

 

Separe um momento oportuno pra visitar esse artigo.

Esteja calmo, concentrado e inspirado.

O conteúdo é pesado, e pode impactar gravemente as pessoas mais sensíveis. Assim como a Verdade, apenas por ser o que é.

Prepare-se pra chorar e passar mal em profundas catarses.

 

A paixão de Cristo, o flagelo e a crucificação.

 

A riqueza de detalhes da operação cavalo de troia nos leva até o principal momento da história humana em todos os tempos, pra ressignificar toda a passagem de Cristo pela humanidade, testemunhando o que sempre nos soou como algo distante e obscuro.

Quão surpresos ficariam os fariseus e saduceus daquela época, tentando toscamente ocultar o horror da atrocidade que cometeram, se soubessem as surpresas que Deus lhes reservaria no futuro.

O filho homem sofreu mais do que qualquer um, para além de dores físicas, o vazio.

 

 

Nota do major Op Cavalo de Troia:

” É possível que os evangelistas não nos tenham dito praticamente nada do que
padeceu o Mestre naqueles momentos e naquele lugar por desconhecimento ou por
respeito. Pessoalmente, inclino-me pelo primeiro motivo: falta de informação.
Como explicarei em seguida, João não pôde presenciar os terríveis fatos ocorridos
naquela meia hora. Os escritores sagrados fazem algumas alusões – sempre muito
superficiais, como quem não quer entrar em detalhes – sobre uma bofetada,
algumas cusparadas e golpes desferidos pelos servos do Sinédrio…
Creio, honestamente, que os evangelistas – talvez no afã de não mortificar
seus leitores com os padecimentos de Cristo – prestaram um fraco serviço à
verdade, não expondo com maior minúcia esse amargo transe do Nazareno. ”

 

 

O único que poderia nos julgar nos amou.

 

” Mas o Nazareno não se alterou. Verdadeiramente, aquele homem era corajoso.
– … Esse povo foi chamado para ser a luz do mundo e para mostrar a glória
espiritual de uma raça conhecedora de Deus… Mas, até agora, vós vos afastastes
do cumprimento de vossos privilégios divinos e vossos líderes estão a ponto de
cometer a maior loucura de todos os tempos…
Jesus fez uma brevíssima pausa para manter o auditório aceso.
– … E vos digo que estais a ponto de recusar a grande dádiva de Deus a todos
os homens e a todas as épocas: a revelação de seu amor.
“Em verdade, em verdade vos digo que, quando houverdes repelido esta
revelação, o reino do céu será entregue a outras pessoas. Em nome do Pai que me
enviou, eu vos aviso: estais a um passo de perder vosso posto no mundo como
sustentáculos da verdade eterna e como custodiadores da lei divina. Justamente
agora estou vos oferecendo vossa última oportunidade para que entreis, como as
crianças, pela fé sincera, na segurança da salvação do reino celeste.
“Meu pai tem trabalhado há muito tempo por vossa salvação, e eu desci até
vós para mostrar pessoalmente o caminho. Muitos dos judeus e samaritanos, e até
dos gentios, passaram a crer no Evangelho do reino. E vós, que deveríeis ser os
primeiros a aceitar a luz do céu, tendes recusado a revelação da verdade de Deus
revelado no homem e do homem elevado a Deus. ”

 

 

” – Por que quereis crucificá-lo…? Que mal vos causou?
Os sacerdotes dos judeus perceberam de imediato a crescente fraqueza do
representante de César e se irritaram com ele, vociferando sem descanso:
– Crucifica-o…! Crucifica-o…!
O paroxismo dos judeus chegou a tal ponto que a pergunta seguinte de Pôncio
quase não foi ouvida:
– Quem quer testemunhar contra ele?
A multidão só sabia repetir uma única palavra:
– Crucifica-o…!
Diante daquele tumulto, Civílis desembainhou a espada e, levantando-a por
sobre o seu elmo, preparou-se para dar sinal para que seus homens entrassem em
ação. Mas Pilatos ordenou que o centurião guardasse a espada e, agitando as
mãos, pediu silêncio. Pouco a pouco, aqueles fanáticos foram recobrando a calma.
E o governador, como que ignorando as petições anteriores do populacho, repetiu a
pergunta:
– Peço-vos mais uma vez que me digais que preso desejais que libertemos
neste dia de Páscoa.
A resposta foi igualmente monolítica e contundente:
– Entrega-nos Barrabás!
Pilatos moveu a cabeça em sinal de desaprovação e insistiu:
– Se solto Barrabás, o assassino, que faço com Jesus?
Aquele novo sinal de fraqueza da parte do governador foi acolhido com uma
brutal explosão de violência. E a palavra “crucifica-o!” ergueu-se como um trovão.
A turba, com os punhos erguidos, continuou clamando, cada vez com mais
força:
– Crucifica-o!… Crucifica-o!… Crucifica-o!…”

 

 

 

” Em seguida, despojaram-no do manto de púrpura que Herodes havia colocado
em torno de seu pescoço e também de seu roupão e da túnica. As roupas do
Mestre caíram sobre uma poça de urina dos cavalos. Por último, desataram-lhe as
sandálias e o descalçaram.
Ato contínuo, o mesmo soldado que lhe havia cortado as ligaduras dos pulsos
colocou-se diante do prisioneiro e de novo prendeu-lhe os pulsos, agora pela
frente, com os restos da corda que havia cortado.
Jesus, com total e absoluta docilidade, deixou que fizessem tudo sem a menor
reação. Seu corpo havia começado a exsudar. Aquela reação de seu organismo
alertou-me. A temperatura ambiente não era tão alta a ponto de causar aquela
súbita transpiração. Contornando a fonte, coloquei-me diante dele e comprovei
que, de fato, seu rosto, seu pescoço e sua espádua haviam começado a umedecerse.

Nesse momento, lamentei não estar usando as lentes infravermelhas. A julgar
pelas pulsações cada vez mais aceleradas de suas artérias carótidas e por suas
sucessivas e profundas inspirações, o rabi havia começado a experimentar nova
elevação de seu batimento cardíaco.
O Nazareno estava perfeitamente consciente do que o aguardava, e seu
organismo reagia como o de qualquer indivíduo.
Com um puxão, o mercenário o obrigou a inclinar-se para o marco de pedra e
depois prendeu a corda na argola metálica que coroava a pequena coluna. A altura
do Galileu e o pequeno tamanho do marco obrigaram-no, desde o primeiro
momento, a separar as pernas, o que resultou numa postura muito forçada. Os
cabelos haviam caído sobre o rosto, ocultando completamente suas feições e
impedindo-me de ver seu sofrimento…
O suor tornou-se mais intenso, convertendo suas largas costas e seu torso em
uma superfície brilhante.
Prontamente, um dos carrascos se adiantou e arrancou a peça mais íntima de
Jesus com um golpe brusco, deixando-o inteiramente despido.
A ruptura das cintas que sustentavam a tanga provocou uma súbita e intensa
dor nos genitais de Jesus. Seu corpo estremeceu e seus joelhos dobraram-se pela
primeira vez.
Ao vê-lo despido, a soldadesca explodiu em uma gargalhada geral. Mas as
caçoadas foram interrompidas pela chegada de Pôncio. Sem mais preâmbulos, o
governador ordenou aos verdugos que começassem. Em meio a um silêncio
expectante, o mais alto, colocado à direita do Mestre, levantou seu flagrum de
cauda tríplice e lançou um terrível golpe nas costas de Jesus, ao mesmo tempo que
iniciava a contagem:
– Unus!
A chicotada foi tão brutal que os joelhos do réu se dobraram, cravando-se no
duro piso do pátio com um som seco. Mas, num movimento de reflexo, o Galileu
voltou a erguer-se, exatamente no momento em que o segundo verdugo
descarregava um novo golpe com seu flagrum bífido.
– Duo!
– Tres!
– Quattour…!
Aqueles soldados, profissionais consumados, manejavam os látegos
simplesmente fazendo girar seus pulsos. Dessa forma, as correias se eriçavam,
produzindo um máximo de efeito com um mínimo de esforço.
– Quinque…!
O entrechoque dos ossinhos e das bolas de metal foram o único som
perceptível durante os primeiros minutos. Jesus, totalmente encurvado, não havia
deixado escapar um só gemido. Os astrágalos e as peças de chumbo caíam-lhe
sobre as costas, arrancando de cada vez algumas porções de pele. Desde o
primeiro açoite, vários filetes de sangue haviam começado a correr pelo corpo,
deslizando para os flancos e gotejando sobre o pavimento.
Como eu suspeitava, depois do sanguinolento fenômeno de exsudação ocorrido
no horto, a pele do Mestre havia ficado em estado de extrema fragilidade. E aquela
chuva de golpes múltiplos não tardou a abri-la, deixando em carne viva seus
ombros, costas e cintura. Pouco a pouco, a cada silvo de flagrum, os ossos e as
bolas penetravam na pele, provocando cortes e rompendo os tecidos, vasos e
nervos.
– Triginta!
Ao trigésimo açoite, o réu desabou, mantendo-se de joelhos, com os dedos
fortemente presos ao aro de metal da coluna.
As costas, ombros e região lombar estavam encharcados de sangue, com
inúmeros hematomas azulados e grandes como ovos de galinha. As correias, por
sua vez, iam traçando dezenas de estrias, como se fossem arranhões, de
tonalidade violácea. A presença daqueles múltiplos hematomas, alguns dos quais
começavam a estourar, levou-me a pensar que a dor que Jesus de Nazaré suportou
naqueles primeiros minutos deve ter atingido o paroxismo. ”

 

 

” Mas, felizmente para ele, os golpes, descarregados com tanta sanha quanto
precisão, foram abrindo muitos dos hematomas, convertendo as costas em um rio
de sangue e, consequentemente, diminuindo a dor.
– Quadraginta!
O açoite número quarenta marcava os quatro ou cinco minutos do suplício. Mas,
em vez de estremecer, como havia ocorrido nos golpes anteriores, o corpo do
Nazareno não reagiu mais. Civílis levantou sua vara de videira e deu por encerrada
a flagelação. Então, um dos suarentos verdugos se lançou sobre o réu, agarrou-o
pelos cabelos e, após comprovar que ele estava inerme, soltou-lhe a cabeça, que
pendeu desfalecida entre os braços.
O centurião apressou seus homens. Um dos soldados encheu uma vasilha com
água da fonte e a despejou na nuca do Nazareno. Ao contato do líquido, a cabeça
se moveu ligeiramente, enquanto parte do sangue escorria para o solo com a água.
Em pouco tempo, tanto o marco quanto uma ampla faixa da parede circular da
fonte, bem como os rostos, braços e túnicas dos verdugos, estavam tingidos de
vermelho. A hemorragia, já generalizada nas costas e cintura de Jesus, começara a
se tornar preocupante.
Embora o suplício tenha terminado no golpe de número quarenta, coincidindo,
assim, casualmente, com a fórmula judaica da flagelação,
173 a intenção de Pilatos,
que acompanhava impassível e silencioso o desenrolar da tortura, era que o
massacre prosseguisse.
Os verdugos aproveitaram o breve descanso para se debruçar sobre o tanque e
refrescar o rosto, assim como esfregar os braços e remover deles as manchas de
sangue. Embora os encarregados do suplício conhecessem o latim, estou quase
certo de que, a julgar por suas barbas ralas e abundantes, eram mercenários sírios
ou samaritanos. Geralmente, os romanos os designavam quando o condenado era
judeu. O ódio ancestral deles pelos hebreus os convertia em executores
exemplares…
O Mestre ia se recuperando. Um dos verdugos pegou-o pelas axilas e o ergueu.
Mas o peso era excessivo e ele teve de pedir ajuda. Quando, por fim, conseguiram
colocá-lo de pé, outro soldado – com uma caçarola de latão nas mãos – postou-se
diante do supliciado, enquanto os verdugos, sem nenhum tipo de contemplação,
puxavam-no pelos cabelos, obrigando-o a erguer o rosto. E assim o mantiveram até
que o romano que tinha a caçarola esvaziou seu conteúdo na boca do Galileu.
Perguntei a Civílis do que se tratava e ele me explicou que era água com sal.
Certamente, o exército romano conhecia muito bem os graves problemas que
podiam resultar de um castigo como aquele. Em especial a desidratação. Embora
Jesus tivesse sido obrigado, no Sinédrio, a ingerir considerável quantidade de água,
a profusa exsudação no horto Getsêmani e agora, durante a flagelação, e a séria
perda de sangue causada pelos açoites devem ter consumido suas reservas – ou o
balanço hídrico corporal, tanto intracelular como extracelular. Aquela água com sal,
portanto, constituía um reforço decisivo, se é que Pilatos desejava realmente que o
prisioneiro não morresse dos açoites. (Também existia o perigo de que a excessiva
concentração de cloreto de sódio e água – o ideal teria sido uma proporção de 0,85
por cento – pudesse acarretar a aparição de edemas ou inflamações brandas em
diversas partes do corpo.)
Mas, como Civílis dissera, a intenção do governador era torturar o prisioneiro
até o limite, de tal forma que seu lamentável estado pudesse satisfazer e comover
o agressivo ânimo dos saduceus.
Assim, uma vez esgotado o conteúdo da vasilha, o centurião ergueu seu bastão
e cada verdugo tomou seu flagrum para prosseguir o castigo.
– Unus!
Aquele novo golpe e os que se seguiram foram aplicados especialmente nas
coxas, nas nádegas, no ventre e em parte dos braços e do tórax. As costas, dessa
vez, foram poupadas.
Os golpes das correias, que se enroscavam nas pernas do Mestre, obrigaram-no
a uma suprema contração dos feixes musculares, em especial os situados nas faces
posteriores das coxas, que assim ficaram mais vulneráveis. Rapidamente a pele foi
abrindo-se e a consequente hemorragia foi muito mais intensa que a das costas.
– Decem!
Em um titânico esforço para suportar a dor, Jesus de Nazaré havia se agarrado
à argola da coluna, erguendo o rosto até onde era possível. Os músculos de seu
pescoço, tensos como a corda de um arco, contrastavam com as fossas
supraclaviculares, inundadas por um suor frio que escorria sem cessar e que ia
diluindo o vermelho do sangue.
– Duo-de-viginti!
O verdugo cantou o número dezoito lançando seu látego sobre o peito do réu. E
uma das parelhas de ossinhos de carneiro deve ter ferido o mamilo esquerdo de
Jesus. A intensíssima dor provocou um vertiginoso movimento reflexo e o gigante
se ergueu com todas as forças, ao mesmo tempo que seus dentes – solidamente
apertados uns contra os outros – abriram-se, deixando escapar um gemido
lancinante. Era o primeiro lamento do rabi.
A contração foi tão potente que as cordas que o prendiam à argola se
romperam e o mestre se projetou para trás violentamente. Aquilo apanhou
desprevenidos os verdugos e o resto da tropa, e todos recuaram assustados.
O Nazareno caiu pesado de costas, deixando no piso do pátio uma poça de
sangue. Quando os soldados se lançaram sobre ele, levantando-o com dificuldade,
a respiração de Jesus estava muitíssimo acelerada.
Aproveitei o momento de confusão para ajustar as “crótalos” e iniciar um
exaustivo exame dos danos ocasionados pela flagelação. Pressionei o cravo dos
ultrassons até a posição extrema (7,5 MHz, ou megahertz) e me preparei para
rastrear, em primeiro lugar, os tecidos superficiais.
Os soldados haviam arrastado o réu até a pequena coluna, prendendo-o
novamente à argola. E os verdugos recomeçaram os açoites, agora muito irritados
por causa do contratempo.
Os golpes, cada vez mais implacáveis, foram abatendo pouco a pouco o corpo
do Mestre, que acabou dobrando os joelhos, enquanto seus dedos, jorrando
sangue, crispavam-se de dor. A cada açoite, Jesus havia começado a responder
com um gemido curto e fraco.
Uma vez “traduzidas” as ondas ultrassônicas em imagens, o resultado da
flagelação apareceu diante de nós em toda a sua dramaticidade. Os carrascos,
consumados “especialistas”, sabiam muito bem quais zonas podiam tocar e quais
não. Desde o primeiro momento, chamou-me a atenção o fato incrível de que
nenhuma das costelas havia sido fraturada. A precisão dos açoites, contudo, havia
aberto os flancos de Jesus, até deixar a descoberto os feixes fibrosos – ou
aponevroses – dos músculos denteados. A dor, ao serem lesadas estas últimas
proteções das costelas, deve ter alcançado limites difíceis de imaginar. Na opinião
dos peritos da Operação Cavalo de Troia, seriam superiores a 22 “JND”.174
Certamente, amplas áreas dos músculos das costas – dorsais, infraespinhais e
deltoides – apareceram dilaceradas e pontilhadas de hematomas, que, não se
abrindo, exerceram extraordinária tensão sobre o que restava da pele,
multiplicando a sensação de dor.
Naquele exame dos tecidos superficiais, os pesquisadores ficaram surpresos ao
comprovar que os carrascos haviam escolhido as áreas mais sensíveis do corpo,
mas menos comprometedoras no que diz respeito a uma possível parada cardíaca
que talvez fulminasse o Nazareno. Elegeram principalmente as partes dianteiras
das coxas, peitorais e zonas internas dos músculos, evitando o coração, o fígado, o
pâncreas, o baço e as artérias principais, como as do pescoço.
Ao mudar a frequência dos ultrassons, passando-a para 3,5 MHz, a análise dos
órgãos internos mostrou, desde o primeiro momento, considerável perda de
sangue. O volume de sangue de Jesus foi calculado entre seis e sete litros, talvez
mais. Pois bem, depois do duríssimo castigo da flagelação, esse volume havia caído
27 por cento. Isso significa que o Galileu havia perdido, no total, desde as torturas
na sede do Sinédrio, ao redor de 1,6 litro de sangue. Uma quantidade considerável,
embora não suficiente para alterar de forma definitiva – física e psiquicamente –
uma pessoa normal. E a prova disso é que Jesus ainda teve forças para responder
às perguntas que lhe fizeram depois do castigo. Todavia, aquele derrame
circulatório deve ter-lhe provocado crescente angústia, palpitações esporádicas,
fraqueza e, sobretudo, uma sede sufocante.
Quanto à frequência cardíaca, as oscilações foram contínuas. Em alguns dos
golpes – em especial um dos últimos, que atingiria direto os testículos –, o pico
alcançou as 170 pulsações por minuto, caindo rápido para 90 e provocando o
segundo desfalecimento.
A pressão arterial, em virtude da intensa descarga de adrenalina, elevou-se
também, em alguns momentos, até 210 milímetros de mercúrio. Mas logo o
progressivo esgotamento da substância deu lugar a um domínio do sistema vago e
seu intermediário, a acetilcolina, o que foi acompanhado de um decréscimo da
pressão arterial, que, já no final do suplício, traduziu-se em um total estado de
prostração.
A análise da corrente sanguínea nos permitiu também a confirmação de um
fato evidente: o sucessivo aumento dos índices de sódio, de cloro e da pressão
osmótica eram sinais inequívocos da forte desidratação que o Filho do Homem
tinha começado a experimentar.
– Quadraginta!
O golpe de número quarenta, que na realidade era o de número oitenta, se
levarmos em conta os quarenta primeiros, caiu sobre um homem praticamente
aniquilado. O Mestre, com o corpo deformado pelos hematomas e todo banhado
em sangue, pouco se movia. Seus imperceptíveis lamentos iam enfraquecendo e,
agora, só ressoava no pátio o ruído dos látegos cravando-se em sua carne e a
respiração cada vez mais ofegante dos verdugos, visivelmente esgotados.
Fazia tempo que o Nazareno havia se transformado quase em um novelo, com
a cabeça e parte do tórax reclinadas sobre os braços, em posição fetal. Os golpes,
cada vez mais lentos e espaçados, continuavam rasgando as nádegas, o ventre, os
flancos e as zonas laterais das pernas, e ferindo até mesmo as plantas dos pés.
Alguns dos soldados, aborrecidos ou comovidos por aquela selvagem
pancadaria, haviam começado a abandonar o lugar, para se ocuparem dos seus
afazeres de rotina.
Civílis, que vinha observando o progressivo esgotamento dos verdugos, dirigiu
um olhar significativo a Lucílio, o gigantesco centurião que eu havia visto no
apaleamento do soldado romano. O da Panônia compreendeu a intenção de primus
prior e, abrindo passagem aos empurrões entre os membros da corte, ergueu os
braços, pegando no ar o flagrum do soldado colocado à direita do Mestre, quando
este estava pronto para desferir um novo golpe.
A súbita presença daquela torre humana empunhando o látego de tríplice
cauda foi suficiente para que ambos os carrascos se afastassem, deixando-se cair,
quase sem respiração, nas lajes do pátio.
E a soldadesca, conhecedora da força e da crueldade do oficial, ficou em
silêncio, atenta a todos os movimentos daquele urso.
Lucílio acariciou as correias, limpando o sangue com os dedos. Depois,
colocando-se a um metro do flanco esquerdo do prisioneiro, levantou seu braço
direito e lançou um golpe preciso e feroz sobre a parte baixa das nádegas de Jesus.
A chicotada deve ter atingido o cóccix e a aguda dor reativou o sistema nervoso do
rabi, que chegou a erguer-se por alguns segundos. Mas, em meio a grandes
tremores, seus músculos falharam e ele caiu sobre os joelhos.
A soldadesca acolheu aquele calculado ataque com uma exclamação que se iria
repetindo a cada chicotada:
– Cedo alteram!
Um segundo golpe, dirigido desta vez à parte posterior do joelho esquerdo,
tirou um gemido do Mestre, enquanto os mercenários repetiam, entusiasmados:
– Cedo alteram!
O terceiro, o quarto e o quinto golpes caíram sobre os rins.
– Cedo alteram! Cedo alteram! Cedo alteram!
A violência de Lucílio era tal que os astrágalos de carneiro ficavam incrustados
de carne, provocando em cada golpe copiosa hemorragia.
– Cedo alteram! Cedo alteram!
A sexta e a sétima chicotadas se centraram em cada um dos pavilhões
auditivos de Jesus. E, quase instantaneamente, de ambos os lados do pescoço,
correram grossas gotas de sangue. O Mestre inclinou a cabeça sobre a argola de
metal e o centurião buscou o flanco direito, despejando toda a sua fúria sobre o
umbigo de Cristo.
– Cedo alteram!
O selvagem impacto sobre o ventre do réu afetou de modo decisivo o seu já
castigado diafragma, praticamente cortando sua já penosa respiração. Aquele, é
provável, foi um dos momentos mais delicados do castigo. Durante alguns
segundos, que me pareceram intermináveis, a caixa torácica do Galileu
permaneceu imóvel. Mas, por fim, os músculos intercostais reagiram, aliviando a
tensão pulmonar.
– Cedo alteram!
O nono golpe, desferido pelo colosso no dilacerado flanco direito de Jesus – e
suponho que de maneira calculada sobre os músculos denteados já abertos, com a
intenção de disparar assim a bloqueada respiração do réu –, produziu um som oco,
como se os ossinhos houvessem golpeado diretamente as costelas.
O ímpeto do oficial, que havia começado a suar muito, foi tal que o corpo de
Jesus se desequilibrou e caiu sobre o lado esquerdo.”

 

 

” Civílis levantou de novo sua vara e ordenou aos soldados que examinassem o
réu. Depois, aproximando-se do governador, pediu-lhe instruções. Deveria
continuar o castigo?
Mas antes que Pôncio tomasse uma decisão, o brutal Lucílio insinuou que, dada
a situação do prisioneiro, o mais certo seria acabar com ele ali mesmo.
Pilatos olhou para o corpo imóvel e ensanguentado do rabi e hesitou. E sorriu
com sarcasmo. Jamais me esquecerei desse gesto. Aquele demente parecia ter se
deliciado com o selvagem castigo. Finalmente, o oficial que havia executado aquela
última parte da flagelação lançou mão de sua espada, convencido de que Pilatos se
inclinaria para a solução que propusera. Mas a água espargida sobre a cabeça e a
nuca do prisioneiro estimulou um pouco seu estado precário e ele, lentamente, foi
recobrando os sentidos.
Aquela progressiva recuperação do Nazareno levou Pilatos a prosseguir com
seu plano e, antes de retirar-se do pátio, ordenou a Civílis que cuidasse do Galileu
e o levasse à sua presença assim que fosse possível.
Eram onze da manhã. Os mercenários soltaram as cordas e, a duras penas,
puseram o prisioneiro de costas contra a coluna que havia servido para a
flagelação. Um dos soldados colocou-se de cócoras por detrás do marco e procurou
sustentar pelos ombros o maltratado corpo de Jesus. O gigante, com as pernas
estendidas sobre o lajeado, respirava ainda com dificuldade, acusando com
esporádicos estremecimentos os infinitos pontos dolorosos. Aqueles tremores foram
se intensificando e eu temi que a febre pudesse ter-se instalado no Mestre. Não me
equivocava…
Outro soldado, sempre sob a atenta vigilância de Civílis, aproximou uma
segunda vasilha dos lábios do rabi e o obrigou a beber nova dose de água com sal.
Algumas das feridas haviam começado a coagular e muitos filetes de sangue, a
secar. Os cortes dos flancos, todavia, continuavam emanando sangue, que caía
sobre as pedras no ritmo dos movimentos respiratórios, cada vez mais curtos e
rápidos.
O centurião balançou a cabeça em sinal de desaprovação. Não era preciso ser
médico para concluir que o castigo havia sido tão desproporcional que era de se
temer pela vida do prisioneiro.
Antes que fosse tarde demais, desliguei o sistema ultrassônico e apertei o
segundo cravo. Ao ativá-lo, o minicomputador alojado na “vara de Moisés” deu
passagem ao fluxo de raios infravermelhos, prontos para a análise de
“teletermografia” dinâmica.175
Como já assinalei anteriormente, as lentes “crótalos” especiais de contato me
permitiam dirigir o sistema de “teletermografia” para as áreas desejadas e, assim,
eu podia ordenar o máximo de explorações.
As imagens obtidas por esse processo foram nada menos que dramáticas. A
maior parte do corpo de Jesus, banhada com sangue venoso, oferecia uma
tonalidade vermelho-parda, ao passo que os hematomas (muito mais quentes)
lançavam uma cor azul intensa.
O rastreamento nos permitiu observar que a rede arterial principal não havia
sido lesada, ainda que a vascularização cutânea e o sistema venoso superficial
(especialmente em extensas áreas dorsais) apresentassem numerosos danos.
Segundo os médicos do projeto, na hipótese de que o Mestre tivesse conservado a
vida, sua recuperação, com as técnicas e fórmulas da época, demoraria mais de
três meses.
A análise das retinas foi satisfatória. A cor amarelo-avermelhada que elas
apresentavam demonstrava que a visão estava correta. O mesmo não se podia
dizer de algumas articulações – em especial a da perna esquerda (concavidade do
póplite ou jarrete) e as dos ombros –, seriamente afetadas pelas bolas de chumbo
e astrágalos de carneiro. A temperatura dérmica dessas articulações,
extraordinariamente inflamadas, havia aumentado até 3ºC.
A alta temperatura geral (oscilante entre 39ºC e 40) veio ratificar minha
impressão inicial: Jesus tinha febre e assim permaneceria até sua morte.
O minucioso rastreamento do corpo do Galileu nos permitiu distinguir, pelo
menos, 225 pontos “quentes”, correspondentes a outros tantos impactos
provocados pelo flagrum. As escoriações, os hematomas e as dilacerações haviam
dado origem a áreas inflamadas, geralmente circulares, que marcavam com sua
alta temperatura o trágico “mapa” dos açoites.
Esse foi o “guia” da flagelação, pormenorizado pelo computador central do
módulo: costas e ombros: 54 impactos; cintura e rins: 29; ventre: 6; peito: 14;
perna direita (zona dorsal): 18; perna esquerda (dorsal): 22; perna direita (zona
frontal): 19; perna esquerda (frontal): 11; braço direito (ambas as faces): 20; braço
esquerdo (ambas as faces): 14; ouvidos: 1 em cada; testículos: 2; e nádegas: 14. A
essas lesões somavam-se numerosas estrias ou escoriações, produzidas pelas
correias dos látegos. A imensa maioria desses ferimentos tinha uma extensão de
três centímetros e a forma típica de “peso de ginástica”, deixada pelos “escorpiões”
das pontas: as bolas de metal e os astrágalos de carneiro.
Em síntese, um castigo tão brutal que nenhum dos especialistas do projeto
jamais chegou a entender como aquele homem pôde resistir. ”

 

 

Estarrecedor: detalhes do julgamento de Jesus Cristo pelo Sinédrio

 

Operação Cavalo De Tróia. Diálogo


Compartilhe a Verdade

24 thoughts on “O agoniante Flagelo e a Crucificação

  1. Bem profundo, quem aguentaria passar por tamanho caos, sem merecer, em prol da vida de outros?

    O sacrifico do Justo, para salvar a humanidade da morte, este é o verdadeiro Rei, aquele que dá sua vida pela vida.

    Toda Honra e Gloria seja dada ao Rei dos Reis.

    Luz p’ra nós!

Deixe um comentário

Escola de Lucifer - Unebrasil | Newsphere by AF themes.